Espera.

Muito bem redigido, bonito e emociona.

É tarde. Da janela do meu quarto vejo o Recife dormir. Nas ruas vazias, ouço ao longe um barulho de carro que insiste em quebrar o silêncio da madrugada. O silêncio de agora é ainda mais profundo do que de costume e, por isso, sou capaz de ouvir uma profusão de sons que normalmente se escondem numa metrópole. São bichos da noite que saem da toca quando os homens vão dormir. Uma coruja sobrevoa o meu bairro, pousa suavemente sobre uma casa lá adiante e me lembra as superstições dos tempos de menino. O sossego da noite contrasta com o descompasso do meu coração que, apertado, espera.

No quarto, minha esposa dorme sem desconfiar da minha inquietação. A ansiedade é inimiga do tempo e o tempo, inimigo da pressa. O relógio não anda e o ponteiro dos minutos parecem horas e o das horas, cem anos de solidão. No quarto ao lado, meus filhos também dormem. Ainda não sabem que daqui a alguns anos terão eles a mesma ansiedade que eu. Perguntar-me-ão insistentemente se já não é hora de ir. Sorrirei, carinhosamente, compreendendo a aflição, e direi que não, com a tranquilidade de quem, pela idade, aprendeu a esperar.

Agora, meu filho mais novo chora e corro em seu socorro, antes que todos acordem. Nos meus braços, ainda reclama o sono interrompido, mas o carinho do colo é o bálsamo para que ele volte a dormir. Demoro mais do que o necessário com seu corpinho em minhas mãos. Mendigo sua companhia na solidão da noite e busco a minha paz na sua paz. Canto baixinho em seus ouvidos e o embalo com imensa ternura em passos lentos que mais parecem uma valsa.

O acalanto também me faz ninar e finalmente o sono chega. Volto para o quarto com o dia raiando e deito o meu corpo enfadado. A manhã já vem.

Temos um grande dia pela frente. Hoje – quem sabe? – deixaremos para trás os anos de tristeza, humilhação e sofrimento para retomar o caminho de nossa grandeza. Quero me juntar a uma multidão, vibrar com o meu time e soltar o grito de ‘campeão!’ preso na garganta.

Sou tricolor e sei que já passou da hora de recomeçar a ser feliz.


por Dimas Lins - www.torcedorcoral.com/destaques/espera-2

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