Se me perguntassem, numa manhã qualquer, o que eu prefiro — meias verdades ou mentiras sinceras —, eu talvez não respondesse. Talvez devolvesse a pergunta, enrolado nas letras de uma canção qualquer. De um lado, Cazuza, com aquele jeito debochado, cuspindo no vento suas "mentiras sinceras me interessam". Do outro, Chico, com seu jeito macio de dizer, no sussurro de "Folhetim", que, se quiserem saber de mim, "é só dizer meias-verdades".
E então, no meio dessa peleja, fico eu: maior abandonado de respostas.
A verdade inteira, quem aguenta? Quem segura no colo uma verdade bruta sem se cortar? As meias verdades, bordadas com o fio da conveniência, são como aquelas histórias que a gente conta num encontro casual: editadas, limpas, polidas. São verdades de passarinho — não voam muito alto, mas encantam quem olha.
Já as mentiras sinceras..., essas são perigosas. São mentiras que amam a gente de verdade. Que olham nos nossos olhos e dizem: "Eu só queria te poupar". Mentiras que abraçam mais forte que muita honestidade por aí. Cazuza, no fundo, sabia — às vezes é melhor um carinho falso do que um tapa autêntico.
Imagino uma mesa de bar onde Chico e Cazuza se encontrassem para discutir isso. Chico, com seu cigarro imaginário, faria poesia até das reticências. Cazuza, entre goles e gargalhadas, chamaria tudo de hipocrisia, mas pediria mais uma dose mesmo assim.
E eu? Eu, como quem assiste de longe, acabo aceitando um pouco dos dois mundos. Às vezes quero a meia-verdade, para adormecer tranquilo. Outras vezes, prefiro a mentira sincera, para viver acordado.
Afinal, como diz aquele velho refrão perdido nos becos da vida: "a gente quer prazer pra aliviar a dor", mas também quer "a vida como der, ou puder, ou quiser...sempre desejada".
E entre uma meia-verdade bem contada e uma mentira sincera bem intencionada... quem é que tem coragem de escolher?
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