Assim que anunciaram o nome escolhido pelo novo Papa, um detalhe me fisgou. Não era exatamente o nome em si — bonito, tradicional, talvez até previsível. Mas sim o que esse nome me fez lembrar: os tempos de faculdade.
Mais especificamente, aquela disciplina que ninguém gostava muito de admitir que curtia (mas curtia sim): Realidade Sócioeconômica Política Brasileira. E o professor "PHD.", que tinha prazer em nos tirar do conforto, um dia chegou com uma tarefa que causou uma comoção silenciosa (mas nem tanto) na sala: “Quero uma resenha comparativa entre o Manifesto Comunista, de Marx e Engels, e a encíclica Rerum Novarum, do Papa Leão XIII.”
Como diria Nelson Rodrigues, a unanimidade é burra…mas essa foi a reação de toda a turma: cara feia. Que sentido fazia comparar o grito revolucionário comunista com um texto da Igreja Católica do século XIX? A galera chiou. Eu incluso. Mas fiz. E guardei aquilo na memória — mesmo que meio contrariado.
Anos depois, entendi. O professor não queria que a gente concordasse com um ou com outro. Queria que a gente percebesse que os dois textos nascem da mesma dor: a exploração do trabalhador, o desequilíbrio brutal de um mundo dominado pelo capital e a necessidade urgente de justiça social.
Enquanto o Manifesto chama o povo à revolução e propõe o fim da propriedade privada, a Rerum Novarum tenta abrir caminho dentro do próprio sistema: reconhece o direito à propriedade, mas também defende o trabalhador, os sindicatos e o papel do Estado em garantir dignidade.
Dois caminhos diferentes, sim. Mas duas respostas a um mesmo problema.
E aí, com
tudo isso borbulhando de novo na cabeça, me pergunto: será que o novo Papa
escolheu seu nome apenas por gosto? Ou será que é um recado? Porque, como
aprendi naquela aula, na Igreja, o nome do Papa não é só nome. É símbolo. É
pista. É escolha política disfarçada de tradição.
Se for Francisco, a opção é pelos pobres, pela simplicidade. Se for Leão, talvez um aceno ao Papa que ousou olhar para a luta dos trabalhadores num tempo em que isso parecia quase heresia. E se for um nome novo, inédito, pode ser que o recado seja ainda mais ousado.
No fim das contas, aquele trabalho da faculdade que fiz quase resmungando acabou sendo um dos mais importantes que eu já escrevi. Porque ele me ensinou que religião e política, fé e justiça social, podem e devem, desde que com responsabilidade, conversar sim.
E que, às vezes, o nome de um Papa diz muito mais do que parece.
Como dito no próprio manifesto, a religião é um meio de controlar as massas utilizado pela burguesia. independente se acreditemos nisso ou não, não dá pra negar que a classe trabalhadora é a mais afetada pela escolha de um novo papa, especialmente em um país de majoritariedade católica como o Brasil. Estou enviando este comentário algumas semanas depois deste post ter sido criado, e por isso, consigo dizer que é provável que este novo líder da igreja realmente cumpra a sua teoria, o Papa Leão XIV, sendo um americano-peruano que conviveu com a classe trabalhadora de perto e que consistentemente foi visto defendendo as causas como a dos imigrantes sírios e da ajuda médica a crianças palestinas, tudo indica que estamos em um bom caminho. Porém, não devemos ver tudo de forma superficial, não sabemos o que realmente passa na cabeça do Papado e nos cardeais da igreja, nunca julguemos o livro pela capa, mas o otimismo prevalece, pelo menos para mim.
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