A Bússola e os Ventos

Há quem ande pela vida como folha ao vento. Vai onde sopra a brisa, muda conforme a maré, fala conforme o coro. A política, porém, não pode ser essa dança frágil das conveniências.

Ela é — ou deveria ser — bússola, não cata-vento. Porque quem se deixa guiar pelas conveniências do momento, pelas pressões do agora, pelas aparências... acaba sem rumo e corre o risco de chegar a lugar nenhum. Ou pior: acaba levado pelos interesses dos outros, pelas mentiras vestidas de verdade, pelas fake news que se espalham mais rápido do que os fatos.

Defender o combate à corrupção, por exemplo, não é aderir a uma torcida. Não é vestir a camisa do lado “A” ou do lado “B”. É defender o que é certo. É escolher o lado da integridade, e só. E isso deveria ser simples. Mas, num tempo em que a verdade se esfarela nas redes sociais e os boatos têm mais cliques do que os fatos, até o óbvio vira polêmica.

É aí que entra a importância de quem tem história. Quem carrega uma trajetória, uma visão de mundo, um legado, não pode se esconder atrás do muro da conveniência. Não pode tergiversar. Tem que falar com clareza, mesmo quando o ambiente pede silêncio. Tem que assumir posições, mesmo quando o caminho mais fácil é a omissão. Porque não basta ter passado — é preciso apontar o futuro.

Num tempo em que fake news viram manchete e a mentira ganha status de “opinião”, a política tem a obrigação de ser ainda mais ética, mais transparente, mais pedagógica. Não se trata de convencer a qualquer custo, mas de iluminar o caminho, de devolver à sociedade a confiança de que nem tudo está perdido — de que ainda existem princípios, valores, e gente que os defende com coragem.

Sim, há quem se orgulhe de "não ser político". Mas a verdadeira política — aquela feita com responsabilidade, com verdade, com compromisso público — é exatamente o que nos salva do caos. E é essa política que precisamos cultivar. Com firmeza. Com propósito. Com a bússola na mão, mesmo quando o vento sopra forte na direção contrária.