Eu não sei exatamente quando me dei conta de que queria escrever crônicas. Talvez tenha sido num fim de tarde qualquer, desses em que a gente se pega pensando na vida com um café esfriando do lado e um pensamento quente na cabeça. O fato é que decidi: quero escrever crônicas. E sabem por quê?
Porque, como bem disse Antonio Candido (já falei sobre isso aqui
em nosso Dialogo de Roda), a crônica não é um gênero maior. Graças a
Deus, completa ele — e eu assino embaixo. Se fosse um gênero maior, desses
solenes, cheios de pompa e vocabulário
empinado, talvez eu não me atrevesse. Mas a crônica é diferente... ela chega de
chinelo, pede licença só por educação, senta no canto da sala e, quando você
vê, já tá te contando um caso, já tá compartilhando um acontecimento qualquer.
E foi lendo um livro de crônicas escolhidas, que quatro autores me tocaram de uma forma única: Paulo Mendes Campos, com elegância de quem sabe
que cada palavra tem um peso certo. Luiz Fernando Verissímo, dono de um humor
sutil e debochado. Fernando Sabino, com estilo suave e bem-humorado. E Rubem
Braga... bom, ao ler os textos de Rubem Braga, foi como se me levasse pelas
mãos e me mostrasse sua forma de ver o mundo: com sensibilidade e leveza.
Me identifiquei com ele de um jeito curioso, como se ele
tivesse colocado no papel pensamentos que poderiam ser meus. Porque Rubem não
precisa de manchete nem de escândalo. Ele fala da tarde que escorre devagar, do
voo de um passarinho distraído, da lembrança de um amor que já não dói. E tudo
com uma prosa que parece conversa. É isso que me encanta na crônica: essa capacidade
de ser leve sem ser besta, íntima sem ser invasiva.
Tem gente que escreve para parecer importante. Outros,
escrevem porque têm algo urgente a dizer. Eu escrevo porque gosto de conversar
com quem me lê. E a crônica me permite isso. É o único texto em que cabe um
“oi, tudo bem?” logo no primeiro parágrafo, sem parecer estranho.
Escrevo sobre o que atravessa o meu cotidiano: uma cena na
rua, um silêncio no almoço, uma lembrança que voltou sem ser chamada. Escrevo
com essa linguagem simples — sem gravata, sem salto alto, sem formalismos. Quero
que vocês, car@s seguidor@s, se sintam em roda. Como num quintal de avó ou numa
boa mesa de bar. Porque a vida já tem notícia demais. Falta mais crônica.
E cá entre nós: se a crônica não é um gênero maior, talvez
seja justamente por isso que ela é tão grande.
Amei!!!
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