Há momentos na vida que eu queria guardar num pote, fechar com tampa de rosca e deixar ali, na estante da eternidade. São sorrisos de mãe, abraços demorados, pores do sol, o cheiro do café na casa de minha avó, lembranças de brincadeira da infância guardadas no ar, as gargalhadas com os amigos ainda ecoassem na sala vazia, os primeiros passos dos meus filhos, conversas com meu pai…Mas o tempo, esse danado, não tem piedade. Ele corre. E leva tudo.
Sonhar é um jeito de desafiar essa corrida. A gente sonha
como quem tenta construir castelos em nuvens, mesmo sabendo que o vento é mais
forte. Sonhamos com amores que não terminem, com juventudes que não murcham,
com amizades que não se apagam na poeira dos anos.
Lembro da música e do filme Highlander — "Who
wants to live forever?" — e me pego dividido. Há uma beleza na finitude.
Mas como seria bom se as boas coisas durassem pra sempre. Aquela melodia
carrega um paradoxo: quem realmente gostaria de viver para sempre... se o preço
disso for ver tudo e todos irem embora? O imortal do filme não envelhece, não
morre, mas assiste ao tempo roubar tudo o que ele ama. Viver para sempre,
talvez, seja uma maldição. Mas ainda assim, por um instante, não desejaríamos
que aquele beijo, aquele olhar, aquele instante mágico nunca acabasse?
O cinema é generoso em nos lembrar da fragilidade da
existência. Em O Curioso Caso de Benjamin Button, a vida anda de trás
pra frente, e mesmo assim, termina do mesmo jeito: com perda. Em Interestelar,
o tempo dilata e encurta, deixando marcas que não se veem no corpo, mas pesam
na alma. Em Antes do Amanhecer, é a temporariedade que torna o encontro
inesquecível. E é sempre o tempo — invisível e invencível — que dita as regras
do jogo.
Mas apesar disso, seguimos. Plantamos memórias, deixamos
cheiros nas roupas, registramos fotos, guardamos momentos como quem tenta
aprisionar o eterno num gesto. Talvez seja isso que nos salve: a esperança de
que, se não pudermos deter o tempo, ao menos possamos torná-lo inesquecível.
Como seria bom que as boas coisas durassem pra sempre... Mas
talvez, justamente por não durarem, é que são boas. E é por isso que seguimos
sonhando, vivendo, tentando — mesmo com a certeza do fim.
A vida é um sopro, sim. Mas às vezes, que sopro bonito.
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