Foi num ônibus da UFPE, sacolejando entre Recife e São Paulo, que eu entendi o que era, de fato, ser estudante. A primeira viagem com a turma da faculdade foi para o 2º Congresso Brasileiro dos Estudantes de Comunicação Social — o famoso COBRECOS, na USP.
Três dias na estrada, com gente da UFPE, UNICAP, ESURP. Três dias de cansaço, farra, histórias e descobertas que ainda hoje eu revisito com um sorriso discreto e nostálgico no canto da boca. Ah, época boa, a gente tinha uma coragem desorganizada e os sonhos em caixa alta!
Mas o que mais me marcou naquele encontro não foram a cerveja ou o vinho carreteiro quente, não foram os debates calorosos sobre mÃdia e sociedade — embora esses também tenham seu lugar na memória. Nem mesmo as festas que nós, pernambucanos, organizamos, a base de pau do Ãndio, de quadrilha junina com casamento e tudo e da volta do nosso querido Grilo (após internação no hospital da USP), ao som da música Casas Zé Araújo...
...o que ficou foi o sÃmbolo do Congresso: uma releitura dos três macacos sábios — aqueles que não veem, não ouvem, não falam. Só que os do COBRECOS eram o contrário: olhos arregalados, ouvidos atentos, bocas abertas berrando notÃcias, ideias, denúncias. Um grito contra o silêncio confortável.
A imagem me pegou de um jeito que poucas coisas pegam. Era um retrato do nosso tempo, da urgência que tÃnhamos em ver tudo, ouvir todos e falar alto, ainda que a voz falhasse. Éramos um bando de estudantes, sim, mas com o peito cheio de causas e um certo tipo de esperança teimosa que só os que ainda não apanharam muito da vida sabem carregar.
Hoje, ao lembrar desse sÃmbolo, me pergunto: se fosse desenhado agora, como seria? Talvez um quarto macaco, com um celular na mão, os olhos grudados na tela. Ou talvez fosse só ele, o único, cercado de pixels, desconectado do mundo real, mas hiperconectado à timeline. Seria um novo sábio ou apenas um alienado moderno?
A ironia é que aquele sÃmbolo do COBRECOS, tão subversivo na época, talvez hoje fosse confundido com um emoji. Um macaco que grita pode virar só mais uma figurinha engraçada no WhatsApp. E a crÃtica dos estudantes pode ser diluÃda no feed de uma rede qualquer, entre vÃdeos de receita e dancinhas virais.
Mas ainda assim, gosto de acreditar que existe um grupo, em alguma universidade, em algum ônibus a caminho de um congresso, desenhando um novo sÃmbolo. Um macaco que, quem sabe, use o celular pra gravar, transmitir, convocar. Que ainda grite, mesmo com o algoritmo tentando silenciar. Porque os tempos mudam, mas a vontade de mudar o mundo — essa, quando pega a gente na faculdade, não larga nunca mais.
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