A teimosia dos sonhos

Dizem que a idade traz juízo — mas ninguém avisou ao rapaz que habita este cinquentão. Ele vai somando anos e boletos, mas insiste em andar pela vida de mochila leve e coração inquieto. Já riscou uns sonhos da lista, daqueles mais fáceis, tipo aprender a tocar baixo ou finalmente saltar de paraquedas. Outros, mais pesados, ficaram pelo caminho, largados como malas velhas em estação de comboio.

De vez em quando, bate aquela dúvida: será que valeu a pena? Mas nem sempre dá vontade de saber a resposta — afinal, quem procura acha… e às vezes, acha! Mesmo assim, o tal menino teimoso não desiste. Talvez seja inocência, talvez pirraça, ou talvez aquele juramento solene: “Nunca vou deixar de acreditar!” Política, para ele, nunca foi só poder – foi a esperança de servir, vontade de consertar o mundo, de ser útil, de deixar um legado.

Mas, convenhamos, remar contra a maré cansa os braços e confunde a bússola. Às vezes, a realidade não bate à porta: arromba, entra sem pedir licença e ainda reclama do café. Nessas horas, volta a pergunta: vale a pena continuar a sonhar com olhos de menino? Desistir? Mudar tudo? 

No fim das contas, o coração ainda bate forte por amor à causa pública e pela vontade de ser ponte e não muro. Por querer estar perto dos amigos e querer ser exemplo pros filhos...isso continua pulsando. — e, claro, por aquele menino que se recusa a crescer. Talvez sonhar seja mesmo o truque para continuar em pé. Talvez desistir seja a verdadeira travessura proibida. Ele não sabe ao certo. Só sabe que, mesmo cansado, segue viagem — porque, cá entre nós, é impossível calar para sempre um menino teimoso. E, entre tropeços e risadas, ele ainda acredita que um sonho bem sonhado vale mais do que qualquer sossego de adulto.

Comentários

Postar um comentário