Quando a rua era o nosso mundo.

No final dos anos 80, a vida era feita de sol, campinho de areia no Saveiro e o som ritmado da bola batendo no muro. No meio disso tudo, o coração acelerava só de pensar na próxima festinha. Foi ali, entre campeonatos de sinuca que nunca terminavam, as trapalhadas do nosso cachorro “Tripa”, as peladas na praia e os encontros na cobertura do Saramandaia, que nasceu minha primeira turma de amigos. A primeira de verdade: aquela que ensina o valor da amizade, da cumplicidade e até da paixão — ou pelo menos de um quase começo dela. Quem foi a primeira? Mistério escondido nas letras de Legião, Paralamas e Titãs, trilha sonora oficial daqueles dias.

As ruas eram nosso parque de diversões. Cada esquina virava palco de aventuras épicas, e o quarteirão se transformava em território da eterna disputa de polícia e ladrão. Regra de ouro: nada de sumir pra dentro de casa e voltar de “anjo”! No improviso, surgiam garrafões, barra-bandeira, esconde-esconde e até o clássico “pera, uva e maçã”, que sem querer nos ensinava os primeiros passos da arte da paquera — ainda sem manual e com zero experiência.

Mas o grande evento mesmo era quando alguém decretava: vai ter festa! Aí sim o coração disparava. Chegava a hora da música lenta: luz baixa, mãos suadas, nervos à flor da pele. O mais corajoso arriscava o convite para dançar. Muitas vezes levava um “não” na lata, mas voltava rindo, porque a graça maior era tentar de novo.

E como esquecer a turma? Marcos e Marcelo, os mestres das histórias mirabolantes. Muca e Jefferson, capazes de fazer piada até com o vento. Guga, Rodrigo e Vitor fechavam o time. Paulinho, Bebeto e Felipe, meus vizinhos inseparáveis, prontos para qualquer aventura. As primas Dani e Carol davam o toque especial. E tinha sempre Eudes e Júnior, Andréia e Cristiane. Os queridos amigos Waneska e Nino — esse último, meu primeiro grande amigo. Até Welna, minha irmã, entrou no grupo meio forçada, mas ninguém lembra disso: rapidinho já era parte oficial da turma. E como esquecer os “turistas” do bairro, como Horacinho e Júlio, que chegavam nos feriados e nas férias, só pra aumentar a bagunça.

Foi um tempo de risadas fáceis, pequenas descobertas, quedas e vitórias (no jogo e na vida). Um tempo em que a juventude inteira cabia em um mezanino, numa cobertura, num campinho ou numa rua que tinha cheiro e cara de lar. Saudade boa desses dias e desses amigos, que continuam vivos dentro da gente — como uma música que nunca para de tocar.


Comentários