Afirmação, sempre.

Entramos não apenas em um partido, mas na política, movidos por admiração. Admiração pelas posturas firmes, pelos posicionamentos claros, pela coragem de sustentar ideias quando isso ainda custava caro. No começo, era a figura pública que nos atraía. Com o tempo, mesmo à distância, a convivência partidária fez essa admiração crescer. Virou respeito. Depois, virou espelho.

Na juventude, a gente precisa disso: um referencial. Alguém que ajude a organizar o mundo quando ele ainda parece grande demais. Durante muito tempo, esse lugar esteve ocupado. Nem sempre concordávamos com tudo, e isso nunca foi um problema. Pelo contrário. Discordar fazia estudar mais, entender melhor, defender com mais cuidado. Talvez porque o centralismo fosse tradição, talvez porque acreditássemos que unidade também é forma de resistência. Seguimos. Assumimos como nosso.

O tempo passou. E o tempo ensina. O amadurecimento amplia a visão de mundo, muda perguntas, desloca certezas. A distância foi crescendo, quase sem barulho, como quem muda de calçada sem romper a rua. Mas nunca levamos embora o respeito. Nem a reverência a quem contribuiu, de forma decisiva, para nossa formação política, ética e humana.

Hoje estamos em lados diferentes. Não por birra, mas por visões distintas sobre o partido, sobre a política, sobre a própria ideia de ideologia. Ainda assim, não haverá agressão. Não aprendemos assim. Aprendemos que política se faz a favor de algo. Com proposta, com afirmação, com horizonte. Nunca contra pessoas.

Seguiremos desse jeito. Com crítica, sim. Com divergência, também. Mas sem perder a ternura, a ética e a memória. Porque quem ajudou a nos formar nunca deixa de fazer parte da nossa história — mesmo quando os caminhos já não são os mesmos

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